quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Mudando o foco para falar de coisas importantes: sustentabilidade, meio ambiente e ecologia

O tema no qual mais penso ultimamente é sustentabilidade, meio ambiente e ecologia. Já estou fazendo algumas coisas bem concretas com relação a isso. Aqui em casa, separamos o lixo para reciclagem, não usamos chuveiro elétrico (nem a gás, o banho é frio mesmo), procuramos comprar alimentos orgânicos, usamos sacolas retornáveis e comecei hoje a ir ao trabalho de bicicleta. Adorei ter ido ao trabalho de bike, me senti bastante segura, os ônibus (que a maioria das pessoas temem) respeitaram minha passagem, foi incrivelmente mais rápido do que as pessoas supunham.

Acredito que cada pessoa tem seu tempo para fazer suas mudanças. Entretanto, isso pode ser usado como desculpas para não se desfazer de sua rotina e de seu conforto, evitando ver o fato de que nós não teremos tanto tempo assim nessa vida confortável se continuarmos a viver agredindo nosso planeta.

Por isso, a partir de hoje, acrescento mais um tema a esse blog. Afinal, tem sido minhas pesquisas mais recentes: madeira de demolição para móveis, roupas de algodão orgânico, composteiras para apartamento, furoshiki (esse eu realmente A-D-O-R-E-I, inclusive, já embalei livros com essa técnica e quando for dar um presente, a pessoa ganhará a embalagem junto). Mas tudo isso merece um post próprio.

Aliás, esse post foi motivado pela RedeEcoblogs, que sigo no Twitter. Eles estão com uma campanha de Reciclar um post de tecnologia, coisa que pretendi fazer no post seguinte. Minha primeira ideia para reciclar um post, era falar de "Até o Fim do Mundo" e relacionar com esse post. Mesmo que eu não consiga assistir ao filme até o fim do prazo da campanha, vou escrever sobre o tema!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

História do Observatório Marc Grave

Você sabia que o Primeiro observatório astronômico das Américas foi construído em Recife há 370 anos?

Profissão: astrólogo

Ontem saiu uma matéria no jornal Diário de Pernambuco, no Caderno Guia de Profissões, sobre a profissão do astrólogo.
Vale a pena ler.
A matéria está dividida em quatro partes:
Intérpretes do céu
Muito mercado pela frente
Atividade ainda é deturpada e
"Não fazemos adivinhações".

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Mensagem de Pazes

Merece divulgar a mensagem de Pazes que Paloma nos trouxe:


"Os indios Aymara, que habitam há séculos as margens do lago Titicaca, nos Andes, defendem a necessidade de sete diferentes tipos de paz:

A primeira é para dentro de si. Consigo próprio, na saúde do corpo, na lucidez da mente, no prazer do seu trabalho, na correspondência dos seus amores.


A segunda é para cima. Com os espíritos de seus antepassados, com a vontade de Deus.


A terceira paz é para frente, com seu passado. Nossa cultura ocidental põe o passado para trás. Já os Aymara põem o passado à frente, porque ele é o conhecido, o visto, o vivido.

A quarta é para trás, com seu futuro.

A quinta é para o lado esquerdo, com seus próximos.

A sexta paz é para o lado direito, com seus vizinhos.

A última paz é para baixo, com a terra em que você pisa, de onde virá seu sustento."


domingo, 3 de janeiro de 2010

Dogville

Este texto é ainda mais antigo. Também republicado na mesma data de A Vila, porque resgatei do outro multiply.

Sugiro observar com cuidado as duas primeiras semanas de Grace em Dogville e perceber as advertências dadas a ela por Chuck e, sobretudo, por Jason.



Análise do nome de alguns personagens:

Moses. Não é curioso que a vila se chame "Dog-ville"? E que o único cão seja Moisés? E que Moisés não consiga chegar à terra prometida e, neste filme, seja, talvez obrigado a reconstitui-la, absolutamente só? Não é curioso que o único personagem sem pecado seja também o único que resista à cidade (aos 40 anos de peregrinação, que na narrativa bíblica ele não resiste)? Também que seja o único testemunho da cidade?

Thomas Edison Jr. Não é curioso que o "pensador" da cidade seja homônimo do "inventor" da lâmpada? Que luz ele traz à cidade? Não é curioso que a sua tentativa de iluminar seja cada vez mais encoberta por trevas? Um iluminista às avessas, cujos escritos se limitam a pontos de interrogações e alguns monossílabos?


Grace. Não é curioso que Tom considere Grace, quando chega, uma dádiva (gift)? Que ela seja, entre todos, a mais bela, a mais solícita, a mais limpa? Graça, que espalharia alegria na natureza e nos homens. O que Grace ainda não sabe é que sua auto-imposição educativa, seu próprio teste, irá testar todos ali.

Achilles. Não é curioso que o herói grego, conhecido por invencível, com apenas um ponto frágil, seja exatamente o mais indefeso dos personagens? Se o bebê seria um Aquiles, imune à degradação humana totalmente presente em Dogville – no mundo – não há como saber. Seus irmãos mais velhos (também heróis) não resistiram à degradação. Por certo que não eram heróis tão ilibados assim...

Jason. Não é à toa que o menino tem esse nome. Quem conhece a tragédia de Medéia sabe quem é Jasão. Jasão, confundido com um traidor do rei, foi enviado com os argonautas para conquistar o velocino de ouro na Cólquida. Lá, Medéia se apaixonou por ele, ela que era feiticeira, abriu todos os caminhos para Jasão. Sabe-se que, sem Medéia, o herói não conseguiria cumprir a missão. Jasão, interesseiro, aceitou todas as "facilidades" oferecidas pela jovem. Mas não desposou dela. Levou-a para Corinto, onde lá, ela era estrangeira. Em Corinto, o rei deu a mão de sua filha em casamento. Jasão, sentindo que seu status subiria, abandonou prontamente a amásia. Medéia vinga-se. A história é longa, mas já vimos os escrúpulos do herói Jasão. Não é curioso que Jason seja a primeira pessoa que perceba todo o processo que Grace irá passar? E que, desse modo, seja o primeiro a usufruir diretamente dessa "exploração" a que Grace se submeterá?

Grace é fugitiva de gangsters. A cidade não a acolhe por boa vontade, mas pelo que ela poderia dar em troca. Acontece, e isso é percebido de maneira meio tácita, que a moeda dos moradores é muito menos valiosa que a de Grace. Grace começa a ajudá-los com supérfluos que aos poucos tornam-se necessários. O que os habitantes de Dogville lhe davam em troca? Quase nada no início, flagelos com o passar do tempo. As pessoas de Dogville sabiam bem que não tinham nada para trocar, e a relação entre Grace e Dogville não se deu de "graça". Ao tentarem ocultar que nada tinham para trocar, ao tentarem ocultar sua fraqueza, na mesma medida em que Grace ocultava sua arrogância, seu poder, eles assimilavam o poder e a arrogância de Grace e esta se submetia cedendo, porque eles eram "apenas seres humanos". Jason já havia anunciado isso, durante as duas primeiras semanas-teste de Grace. Quando Grace, tentando tornar-se útil, fora tomar conta dos filhos de Vera. Jason diz que sabe porque ela está ali e diz que ela poderá ficar lá, enquanto fizer o que ele deseja porque assim, sua mãe ficaria feliz. O menino é o primeiro a explora-la. Chuck ainda diz que não há nada que preste naquela cidade, e, se ela gostou da cidade...

São os dois recados das duas primeiras semanas. Será que o véu da sociabilidade só cai após quinze dias? Grace julgava que tinha feito amigos até então. Aos poucos percebemos que Jason catalisa todo o ser social daquela comunidade. Ele se torna o pequeno explorador, que age em seus próprios interesses. Nada muito diferente da atitude lenta e contínua de degradação do ser mais puro em ser mais impuro. Como diminuir o valor de troca? Como fazer com que eles continuem achando que estão dando muito? Mais do que Grace merece? Tornando-se "fortes" aprofundando a "fraqueza" dela. Mas tudo "verdadeiramente" acontece.

Fraco é quem precisa do poder para se dizer forte. Mesmo quem parece estar do lado de Grace, Tomas, é fraco. "É justo alguém ser culpado por ter tido medo?" Sempre temos escolhas, é verdade. Sobre que bases fundamos nossas escolhas? Dogville mostra que o mundo funda suas bases na fraqueza. Pensei que o tema de Dogville era o poder. Sob um certo aspecto é sim. Sob o aspecto de que poder é quantum de fraqueza...

sábado, 2 de janeiro de 2010

A Vila

Escrevi há muitos anos atrás, talvez tenha sido em 2004. Está publicado como 22/12/05, mas foi bem antes, pois eu refiz o multiply por essa época.

Atenção: esse texto contém spoilers!


"A Vila" nos deixa de algum modo incomodados. O gênero do filme, contudo, não é suspense. Nem se trata de mais uma crítica social. O que aparece, com mais relevância no filme, é a transformação simbólica, isto é, a iniciação e purificação rumo ao amadurecimento, em busca do conhecimento.Por isso, convido vocês a entrar no mundo das cores desta vila sui generis.

O amarelo que protege os habitantes da vila das criaturas ameaçadoras é um amarelo escuro, meio mostarda. Pelo simbolismo, o amarelo claro, o amarelo-ouro, o dourado, é cor que ilumina, aparentado ao sol, como o branco. Mas o amarelo do filme é fosco, escuro, como o preto. Cito do "Dicionário de Símbolos": "O amarelo emerge do negro, na simbologia chinesa, como a terra emerge das águas primevas". E também, o Zend Avesta, que tem os olhos amarelos "para melhor penetrar o segredo das trevas". Não é à toa, também, que se diz de quem tem medo: "amarelou". O medo é o artifício usado para impedir a iniciação da segunda geração. A cor amarela, em particular, é ambígua, e cabe muito bem na cor "protetora", posto que "protege" o que é o desconhecido, mas também encobre o engodo, o engano. Se amarelo é a cor da luz, é, aqui, uma luz embaciada.

O vermelho é a segunda cor mais importante da trama. É a cor proibida. E não é à toa, inclusive pelo simbolismo do vermelho. Atravessar o vermelho é atravessar para o outro mundo. O vermelho é a cor da iniciação e, no filme, era exatamente isso que era proibido aos jovens: amadurecer. Os mais velhos criaram um "mistério", as criaturas, mas não criaram ritos iniciáticos a esse mistério. Todos se submetiam no estágio mais primário, o medo. Uma vila que cresceu
infantilizada e parece desejar permanecer assim, exceto por Lucius Hunt, que insistentemente solicita autorização para ir à cidade. Mesmo Hunt, contudo, permanece infantilizado, observe-se como ele chora e assume a culpa pela invasão das criaturas em determinado momento. Além dele, vemos adultos que não cresceram, com sua expressão máxima em Noah. Mas também com a irmã de Ivy e seu futuro marido, que não suporta que lhe amassem a roupa.

É exatamente o adulto mais infantilizado que vai extrair do vermelho as maiores conseqüências. Lucius Hunt chega a dizer que Noah é puro. Se não houvesse a interdição, provavelmente não precisaríamos assistir ao rito de iniciação de Noah/Hunt/Ivy. O interdito atrai Noah e Lucius por perspectivas distintas.

O ditado popular costuma dizer que os caminhos para o conhecimento são o amor ou a dor. No filme, os dois caminhos são percorridos. Só o amor não bastaria para impulsionar a busca pela verdade. Foi precisa a dor, foi preciso estar no limiar entre a vida e a morte, para que o amor seguisse a senda aberta da dor.

O vermelho, sempre que é visto na vila, precisa ser enterrado. Não é interessante que a violência precise ser encoberta, que a dor precise ser escondida? Trata-se de um comportamento evitativo do conhecimento. Noah, Lucius e Ivy são os iniciados pelo sangue, a cor proibida, como repete Noah. O simbolismo do vermelho, no filme, foi invertido pelos mais velhos, por isso a iniciação precisa ser literal – e não simbólica. Só assim se poderia vislumbrar a liberdade. Noah, então, comete o crime, Lucius fica entre a vida e a morte, Ivy abraça Lucius
e, manchada de sangue, percorre toda a vila. Tudo se transforma após o ato trágico. O vermelho – o interdito – banhou a cidade. Só há um caminho agora, prosseguir na purificação. É isso que o mais velho percebe. Ivy fica responsável por buscar os remédios que salvariam a vida de Lucius.

Ivy empreende a "jornada do herói" e o simbolismo das cores está todo lá. No início a moça cega veste a capa amarelo-fosco e uma das primeiras coisas que lhe acontecem é cair num buraco e se sujar toda de lama escura – preta. Assustada, ela corre, se perde e, sem perceber, pára num campo cheio de flores vermelhas. É quando a criatura vermelha aparece. Ivy vai até o fundo da escuridão, mas, para sair do mal, do negro, ela precisa ser iniciada, atravessar o
vermelho, o sangue. Ivy, então, conduz a criatura à morte. Livre, ela pode agora se purificar e é o que faz, localiza o caminho indicado, tira a capa quase totalmente negra e, exceto por seus pés, ela está totalmente limpa. Neste momento, ela pode caminhar em direção à verdade, pois só a verdade pode salvar Lucius Hunt, ele que já tinha percebido que todos na vila guardavam segredos.

Quando Ivy consegue sair dos limites da vila, é que nós percebemos o tamanho da atrocidade para com aqueles jovens infantilizados. O fio de esperança está na surpresa de Ivy quando ela encontra o guarda que vai ajudá-la: "Eu não esperava por isso". Ela não esperava a bondade fora da vila. Se algo muda a partir daí? Como pensar que não?

Noah morre porque não percebe que entrar em contato com o vermelho é purificar-se, morre ao se fixar no pretensamente divino: ele sai de si, assume o mistério, perde sua identidade, não transcende – não há transcendência. Noah morre duas vezes: a primeira como humano e a segunda como pretensa criatura dos mistérios.

Ivy volta à vila renovada, transformada. Ela não usa a capa "protetora" no caminho de volta; retorna à vila tão limpa e clara como quando chegou à cidade. Ela sentiu a verdade.

Lucius só poderia ser salvo pela verdade. Ele é a materialização da jornada de Ivy, pois está entre a vida e a morte. O que morre aí? Acho que não preciso dizer. Há a morte para que outro Lucius Hunt possa viver. Assim como é outra Ivy Walker que retorna da "jornada do herói".

"A Vila" é um filme iniciático, da mais profunda transformação. Iludem-se os mais velhos que pensam que poderão manter a nova geração na ignorância após a jornada de Ivy e Lucius.

Morin assistiu à "Querida Wendy"? Von Trier e Vinterberg leram Morin?


Este texto foi escrito dia 25/03/2006.


O final de Querida Wendy não é redentor como o final de Dogville, apesar de toda a violência no clímax. Ambos os lados de Querida Wendy são extremamente parecidos. O poder já está nas mãos de cada um, sua arma. A diferença é que alguns têm o "direito" de ter o poder, outros, não.

Os adolescentes dão novos ares à sua vida insegura e marginal ao tratarem suas armas de um modo amoroso e até sexual. Embora o sexual aqui seja bem ambíguo, ao tomar a "arma" ora como alguém, uma pessoa a ser amada, ora como um mero objeto sexual, objeto possuído.

Vemos, durante o filme, o crescimento da auto-estima de cada um deles, assim como seus potenciais e desejos que vão tornando-se reais. Um a um, inclusive através do final pouco redentor.

Se vemos o filme como crítica (ao belicismo norte-americano, ao cinema americano), é porque ele é direto e absurdo. Não levanta uma bandeira. As armas estão bem colocadas no filme, só esse instrumento poderia trazer a auto-estima dos jovens e levá-los à morte. Com qualquer outro objeto, sua auto-estima poderia até ser recuperada, mas eles não morreriam com fama, glória e prazer. Sim, prazer. Esse é um dos temas do filme. Aquiles, à sua época não fora advertido dessa terceira possibilidade na morte abreviada. No filme, são jovens que morrem cedo, com fama, glória e prazer.

É um filme esquisito. A gente sai ambígua do cinema. Eu, em particular, fui assistir por puro acaso. Entrei no cinema sem nunca ter lido sobre o filme, sem nem saber do que se tratava. O filme é chocante e absurdo. E absurdamente divertido e tenso, leve e pesado. Ainda não decidi onde mais estava a violência do filme (afora a violência explícita das mortes etc e tals).


Além disso, o elemento "extra" ao clã formado pelos adolescentes - que criaram toda uma "ciência" no uso das armas - os considera loucos, tem uma relação muito mais "prática" com a arma, acaba participando do grupo por uma contingência, embora não os aceitasse, e, ao final, faz exatamente o que se esperaria de um dos membros. Esquisito? É sim.

Acabei de ler um capítulo do volume 1 do livro de Edgar Morin, "O Espírito do Tempo". Não pude deixar de ver associações com o filme. No estilo da minha amiga Luciene, coloco as citações do texto de Morin:

"Hollywood já proclamou sua receita há muito tempo: a girl and a gun. Uma moça e um revólver. O erotismo, o amor, a felicidade, de um lado. De outro, a agressão, o homicídio, a aventura. Esses dois temas emaranhados, uns, portadores dos valores femininos, outros, dos valores viris, são, contudo, valores diferentes. Os temas aventurosos e homicidas não podem realizar-se na vida; eles tendem a se distribuir identificativamente.
...
"Por um lado, irrigação da vida cotidiana, por outro, irrigação da vida onírica. Dois sóis gêmeos efetuam uma rotação, um sobre o outro. Um aquece com seus raios os fermentos que se desenvolvem na sociedade, o outro dá uma plenitude imaginária a tudo que falta na sociedade. As louváveis aventuras cinematográficas respondem à mediocridade das existências reais: os espectadores são as sombras cinzentas dos espectros deslumbrantes que cavalgam as imagens.
...
"A vida nãio é apenas mais intensa na cultura de massa. Ela é outra. Nossas vidas cotidianas estão submetidas à lei. Nossos instintos são reprimidos. Nossos desejos são censurados. Nossos medos são camuflados, adormecidos. Mas a vida nos filmes, dos romances, do sensacionalismo é aquela em que a lei é enfrentada, dominada ou ignorada, em que o desejo logo se torna amor vitorioso, em que os instintos se tornam violências, golpes, homicídios, em que os medos se tornam suspenses, angústias. É a vida que conhece a liberdade, não a liberdade política, mas a liberdade antropológica, na qual o homem não está mais à mercê da norma social: a lei.
...
"A liberdade infra se exerce abaixo das leis, nos "submundos" da sociedade, junto aos vagabundos, ladrões, gangsters. Esse mundo da noite é, talvez, um dos mais significativos da cultura de massa. Porque o homem civilizado, regulamentado, burocratizado, o homem que obedece aos agentes, aos editais de interdição, aos "bata antes de entrar" aos "da parte de quem", se libera projetivamente na imagem daquele que ousa matar, que ousa obedecer à sua própria violência.

"Ao mesmo tempo, a gang exerce uma fascinação particular, porque responde a estruturas afetivas elementares do espírito humano: baseia-se na participação comunitária do grupo, na solidariedade coletiva, na fidelidade pessoal, na agressividade em relação a tudo que é estrangeiro na vindita (vingança em relação ao outro e responsabilidade coletiva dos seus).
...
"A gang é como o clã arcaico, mas purificada de todo e qualquer sistema tradicional de prescrições e de interdições, é um clã em estado nascente. É o sonho maldito e comunitário do indivíduo ao mesmo tempo reprimido e atomizado, o contrato social da alma obscura dos homens sujeitos às regras abstratas e coercitivas. É por causa disso, aliás, que os jovens, tanto nos subúrbios, como os dos bairros elegantes ... tendem a constituir "bandos", clãs-gangs elementares, para viver conforme o estado natural da afetividade.
...
"O tema da liberdade se apresenta através das janelas diariamente abertas da tela, do vídeo, do jornal, como evasão onírica ou mítica fora do mundo civilizado, fechado, burocratizado... o tema da liberdade se inscreve no grande conflito entre o homem e o interdito. Qualquer que seja a saída desse conflito, e mesmo que o homem finalmente seja vencido ou domesticado pela lei, a revolta antropológica contra a regra social - o conflito fundamental do indivíduo e da sociedade - é colocada, e as energias do homem são empregadas nesse combate.
...
"Bofetadas, golpes, tumultos, batalhas, guerras, explosões, incêndios, erupções, enchentes assaltam sem cessar os homens pacíficos em nossas cidades, como se o excesso de violência consumido pelo espírito compensasse uma insuficiência de violência vivida. Fazemos em toda segurança a experiência da insegurança, isto é, ainda da liberdade, pois "o homem livre é necessariamente sem segurança", como disse Eric Fromm. Fazemos pacificamente a experiência da guerra. Fazemos passivamente a experiência do homicídio. Fazemos inofensivamente a experiência da morte. É preciso insistir nesse último ponto: não é só pela necessidade de fazer a experiência do homicídio que existe a vilência, é também pela necessidade de viver a morte - de conhecê-la.
...
"Um problema central permanece: há um fundo de violência no ser humano que precede nossa civilização, qualquer civilização, e que não pode ser reduzido definitivamente por nenhum dos modos atualmente conhecidos pela civilização. A civilização é uma fina película que pode solidificar-se e conter o fogo central, mas sem apagá-lo. A civilização do conrorto pacífico, da vida sem riscos, da felicidade que quer ignorar a morte será que constitui uma crosta cada vez mais sólida abaixo das energias dementes da espécie? Aqui a resposta ainda é dupla. Se, de fato, a superfície se endurece e torna a se fechar sobre o fogo central, então a pressão interna de decuplica... todas as experiências nos provam que ninguém está definitivamente civilizado."


Quem é Cloé?


Cloé é um dos epítetos de Deméter. De modo bem resumido, Perséfone, sua filha, casou-se com Hades, mas em acordo com ele, por causa da dor de sua mãe, passava uma época do ano nos subterrâneos e o outro tempo, na parte de cima da terra.

"A grande deusa iniciava seu esperado retorno após a aradura, no mês Pianépsion (segunda metade de outubro), com as Tesmofórias, a festa das semeaduras, e era 'presença total', realmente, à época da festa das Clóias, quer dizer, do 'verde', no mês de Posídeon (dezembro), quando, após as chuvas do outono, o trigo e a cevada de Deméter-Cloé cobriam os campos com um manto verde e aqui permanecia até a colheita da última primavera, nos últimos dias do mês de Targélion (fins de maio) e início do mês de Esquirofórion (junho)." (Junito de Souza Brandão)

Cloeh é o esplendor, a força propulsora da vida na terra, personificação de Deméter em um dos momentos clímax do retorno de sua filha à terra.

A imagem foi extraída daqui.

Belíssimo Janeiro


"Ó tu, que com dardo que flama
Partes do gelo da minha alma
Pra que ela se lance fremente
Ao mar de sua suprema esperança:
Sempre mais clara e mais sã,
Livre na lei mais amorosa - 
Assim exalta ela teus milagres,
Belíssimo janeiro!"

E para terminar:
"Quero cada vez mais aprender a ver como belo aquilo que é necessário nas coisas: - assim me tornarei um daqueles que fazem belas as coisas."

Todo janeiro anuncia um novo tempo, aproveitemos o instante, porque ele passa muito rápido... já passou! E como vale a pena um instante de sorriso, de deleite...

Feliz Janeiro! Feliz 2010!!!

Os dois textos aspeados são de Nietzsche, não me canso de citá-los, sobretudo o segundo, que acho muito belo e profundo!


Ano novo...

... coisas antigas que se mudam.

Vou fechar meu multiply, aos poucos, trarei as coisas que estão lá para cá.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Agora International Website - Cornelius Castoriadis


Mais um pouco de história.

A dissertação de Mestrado que escrevi abordou o pensamento de Cornelius Castoriadis. Entre 1998 (ano que defendi) e 1999, publiquei dois artigos sobre o autor. Descobri, faz algum tempo, um website que direciona tudo que foi publicado na internet sobre Castoriadis em várias línguas e meus artigos estão citados .

Os artigos são A apropriação do "conceito" grego de Caos no pensamento de Castoriadis e Aspectos da criação no pensamento de Castoriadis.